quinta-feira, 6 de novembro de 2008

DISCIPLINA, STRESS E APRENDIZAGEM **


Acabei de ler o seu comentário ao meu post «PEDAGOGIA EM PORTUGAL», de 1 de Outubro
e vou já fazer o post que estava preparado para uma resposta a José Carrancudo.



“… o comportamento mais natural de qualquer ser vivo, é de não fazer nada, quando não é mesmo obrigado a fazer alguma coisa, conservando assim a energia…” é o que se lê no post com o título acima, no blog Educação em Portugal, de José Carrancudo.


Antes de tudo, do meu ponto de vista, julgo que colocaria as coisas de outra maneira, dizendo: “o comportamento mais natural de qualquer ser vivo é de fazer aquilo que mais agrada, gerindo a energia o melhor possível.”

Quando se fala de disciplina nas aulas, julgo que com a indisciplina não se conseguem aprender as matérias que necessitamos de aprender porque exigem concentração da atenção do aprendiz, pelo menos durante alguns lapsos de tempo em que essa matéria deve ser apreendida.
Se os professores ficarem ocupados com o controlo dos comportamentos inoportunos dos alunos, qual é o tempo que vão dedicar a expor as matérias a serem aprendidas? O tempo das aulas é limitado e uma pessoa não consegue fazer duas coisas incompatíveis ao mesmo tempo (prestar atenção à irrequietude dos alunos e expor a matéria).
E expor a matéria a quem? Aos restantes alunos que ainda não se mostram indisciplinados? Qual a atenção que podem prestar às aulas enqanto os colegas os conduzem à desatenção?
Se a profissão do professor é ajudar o aluno a aprender e se não consegue atingir esse objectivo,
obviamente, deve sentir-se frustrado. Qual será a sua resposta a essa frustração? Uma delas pode ser «virar as costas» à turma e «deixar andar». E qual será a aprendizagem dos alunos ainda não indisciplinados? Prestar atenção aos colegas indisciplinados ou à matéria a ser dada?
Quem, de facto, perde mais com isso? O professor ou os alunos? O que poderão os alunos aprender nestas circunstâncias? Modelarem-se em comportamentos semelhantes aos do professor? Ficarem reforçados porque se portaram mal? Os que não se portam mal, modelarem-se nos comportamentos dos turbulentos para daí obterem reforço vicariante? Arranjarem justificações dizendo que os professores não ensinam?

E que reacções terão os pais? Criticar os professores por não obterem bons resultados com os alunos?

Porém, onde aprenderam os alunos a ser turbulentos ou a portar-se mal nas aulas? A família de cada um deles não será, às vezes, um exemplo ou um incentivo para que se portem mal nas aulas? Os pais terão a noção daquilo que os seus filhos fazem nas aulas? Caso afirmativo, qual a razão dos pais não se dirigirem à escola para saber da competência dos professores? Em sentido contrário, qual a razão das muitas agressões a professores, não só dos alunos como dos pais, avós e até de outros familiares? Isso já tem acontecido, noticiado e repetido ainda hoje no jornal da noite. Muitas vezes, os pais nem querem saber da boca dos professores o que se passou! Ouvem os filhos mas não ouvem a «outra parte». Onde estará a verdade e a objectividade? Aos filhos não convirá «pregar uma mentira», de vez em quando, para se desculparem da sua má colaboração nas aulas? É como se o juiz proferisse a sentença ouvindo apenas uma das partes.

A nossa experiência diz-nos que o «stress» (q.b.) é necessário em todas as circunstâncias em que se deseja atingir mais do que aquilo que se possui. Acontece até no atletismo. A aprendizagem escolar é um desses casos: escrever melhor, falar melhor, obter mais conhecimentos. Exige trabalho, esforço e treino. Para isso, é necessário algum stress. Tudo isto exige um certo «investimento» que deixa de ser efectuado no caso de não dar rendimento, o que, em psicologia, se chama reforço. Quem está numa «paz podre» não investe coisa alguma. Por esta razão, até aos «velhinhos» se aconselha que se «mexam», que andem, pelo menos, quilómetro e meio todos os dias. Isto quer dizer que, com este exercício, eles podem por a «bomba» cardíaca a funcionar e evitar que as articulações fiquem «enferrujadas»

Numa aprendizagem, existe sempre o reforço, isto é satisfação por se conseguir aquilo que se deseja ou por se conseguir evitar aquilo que não se deseja. Acontece-nos todos os dias e a cada momento. Assim, o reforço ou, mais correctamente, o reforçador, pode ser um elogio, uma boa nota, um reconhecimento público ou até o medo do castigo. Enquanto o último pode ser prejudicial, mas necessário em algumas situações, os outros são bons e fáceis de proporcionar. Numa aula, o professor pode manipular esses reforçadores e doseá-los conforme as circunstâncias. Desses reforçadores surgirá o reforço que é a tal satisfação. Assim, ter uma boa nota ou desempenho ou evitar um «chumbo» ou até a vergonha dum mau desempenho serão o resultado desejado. Os esquemas de reforço são muito diversos de acordo com o momento da sua obtenção, tipo, frequência, qualidade, etc., importantes para quem os têm de manipular.

O mais importante é que também durante a brincadeira muito se aprende. Se o professor conseguir incitar (provocar stress) os alunos para entrarem numa brincadeira ordenada (disciplina) durante a qual eles possam aprender alguma coisa daquilo que é necessário e se conseguir proporcionar-lhes o reforço por eles desejado ao atingirem uma boa aprendizagem julgo que se deve sentir muito feliz porque não é fácil nem deixará esse professor sem uma grande carga de stress no final da aula. Mas, em compensação, verificará satisfeito porque a sua actuação foi muitíssimo proveitosa e benéfica para os futuros cidadãos que até se podem modelar nesses comportamentos identificando-se com o seu autor, especialmente quando na família não tiverem outro que se comporte melhor. Até os computadores para crianças proporcionam esta oportunidade de aprender a brincar. Mas, é necessário «trabalhar», investir, treinar.

Assim, apesar dos magros salários que se aufere no nosso país, valerá a pena ser professor … já que não se conseguiu ser gestor dum banco!

Como corolário destas divagações, parece que é aos professores que compete, em primeiro lugar, orientar as aulas de acordo com a sua personalidade e capacidades, sempre em interacção e em conjugação com as personalidades dos alunos e com o meio ambiente que todos encontrarem na escola. Os cinco pequenos volumes de COMO MODIFICAR O COMPORTAMENTO e os três relacionados com a reeducação, já mencionados em posts anteriores, podem dar alguma ajuda a quem dela necessitar.

Depois deste comentário que se destinava a José Carrancudo, se o meu ilustre comentador quiser diminuir um pouco mais o seu «stress» pode praticar porfiadamente o mesmo que aconselhei a Cristina e que consta das páginas 51 a 59 do livro aqui apresentado.

Imagine (e vizualize) também durante pouquíssimos minutos, antes de se deitar, como poderá dar uma aula melhor e mais controlada do que a sua última melhor aula e comece o relaxamento para depois entrar em imaginação orientada. Se ler outros posts, tem mais livros dos quais se pode socorrer para ver o que os outros fizeram e conseguiram.

Boa sorte.