domingo, 22 de fevereiro de 2009

GOVERNAR «BEM» NÃO É FÁCIL **

Governar «bem» não é fácil nem quer dizer «governar-se» bem.

Num comentário que fiz no blog  Compincha disse que tinha lido com curiosidade o conteúdo do post CARNAVAL CENSURADO, de 21 FEV 2009 e que poderia fazer uma intervenção no meu blog, mas que não será apenas sob o ponto de vista dum psicólogo.

Hoje voltei a consultar o blog e a ler outros posts sobre Milagreiros e Trapaceiros (19 Out 08), A Política Partidária (23 Out 08), A Governação Actual (25 Out 08), A Coerência (26 Out 08), O Pragmatismo (28 Out 08), A Panela de Pressão (02 Nov 08), O Barraca e o Embuste (5 Nov 08), etc..

O assunto interessa-me bastante porque se enquadra na Psicologia Social que estou a leccionar no ISMAT. É entusiasmante estudar e compreender os «digladiadores» políticos especialmente nos momentos de eleições e outros semelhantes.
Mas a sua tentativa de manutenção do poder também é interessante.


O sociólogo francês Gustave Le Bon, em princípios do século passado, dizia acerca das mesmas, na sua PSICOLOGIA DAS MULTIDÕES, que:  "quaisquer que sejam os indivíduos  que as componham, independentemente dos seus modos de vida, profissões, carácter ou inteligência, «perdem-se» na mesma e praticam actos que isoladamente não seriam capazes de executar, parecendo que a multidão tem um «pensamento colectivo»"

Também disse que “o seu nível intelectual se situa abaixo do individual e que nos seus comportamentos exprime emoções de «seres primitivos».”

Isto terá a ver alguma coisa com os partidos políticos?
Por sua vez, Quirino de Jesus, conhecendo bem este livro diz que “Quem, governa tem de aproveitar todas estas forças e manejar as alavancas do espírito público”. Mas adverte que “é preciso cuidado
com o alcance prático a dar aos mitos para se não cair em ilusão perigosa e não iludir os outros.”

Esta carta de que o referido post fala, foi escrita a Salazar pouco antes da morte do seu autor em princípios de 1935.
Quirino de Jesus era o principal ideólogo de Oliveira Salazar e aquele que mais o ajudou e incentivou a permanecer no Governo.
Tendo começado a vida política como deputado em 1921, Salazar não foi capaz de iniciar a sua actividade no Parlamento.
O mesmo aconteceu em 1926, por causa das alegadas disputas e distúrbios sociais existentes no Governo, quando foi convidado para Ministro de Finanças do Governo de Mendes Cabeçadas.
Posteriormente, em 1928, depois da consolidação da Ditadura Nacional iniciou-se como Ministro das Finanças continuando até 1940.
Com forte apoio do General Carmona, aprovação da nova Constituição de 1933, constituição da União Nacional e repressão de toda a oposição através da polícia política e da censura, foi continuando a sua governação até se tornar «Pimeiro-Ministro em 1940.

A sua influência política com poder legítimo no início, passou a ser exercida através do poder coercivo com o apoio da polícia política e da censura em permanente acção. Acerca disso, Quirino de Jesus, antes de morrer, tinha começado a vislumbrar alguns «desvios» na política e exercício de Salazar e já o advertia:

“Se me agrada tudo que crie um pouco de ideal, temo o desenvolvimento excessivo do poder publico que considero útil temporariamente, mas só num tempo curto. A censura é hoje um obstáculo à crítica constructiva. A pretexto de se eliminar a critica demolidora e
mal dizente matou-se a critica fiscalizadora, fez-se o silêncio à sombra do qual medram as mediocridades. Já no poder se vê com maus olhos que tratem scientificamente certas questões só porque as conclusões da sciencia se não harmonizam com os prejuizos de quem manda. É o abuso do poder, que não tem controle. Isto é mal, é vicioso, desvirtua o espirito publico.
Como seria util estabelecer em bases concretas e acomodadas ás forças do pais o código regulador da censura!
Como está, é o arbítrio do poder dos pobres homens que perdem noites a ler os jornais e a estragá-los muitas vezes. Há uma crítica constrictiva e moderadora dos impulsos hitlerianos de certos pequenos despotas.
Construir e moderar seria obra de boa imprensa. Estive dois dias no norte a ver escolas (25 e 26) e por lá encontrei casos que justificam o que acabo de dizer sobre a imprensa.”

Em Psicologia Social, Salazar aproveitou bem as forças e manejou as alavancas do espírito público mas não teve o cuidado necessário com o alcance prático a dar aos mitos, para se não cair em ilusão perigosa e não iludir os outros
Foi assim que conseguiu «minar» a obra de consolidação económica e social iniciada nos primeiros anos da sua governação. Depois da «falta» de Quirino de Jesus, pouco tempo mais durou o bom senso necessário a um governante que deseja ser sério e não falacioso como os muitos que nos aparecem pela frente ao longo da história. Se houvesse outros «Quirinos» que o ajudassem a pensar na influência social e poder social de que ele dispunha e necessitava para a sua governação ou para a passagem do testemunho a outras pessoas «mais jovens e competentes e menos preconceituosas» talvez não tivéssemos chegado tão rapidamente à cauda da Europa onde podemos continuar por longos anos se a educação e a instrução continuarem a ser
tão menosprezadas e vilipendiadas como até agora.
Basta apenas reler, com cuidado e concentração, o período da carta de Quirino de Jesus (destacado a negro) para verificar que em 1934, os desvios já tinham começado e estavam a ser evidentes até nas escolas onde se desenvolve prioritariamente e com facilidade toda a formação científica, moral e cívica dos cidadãos de qualquer país e, especialmente, dos que serão os futuros governantes.
Quase sempre, a ignorância é muito oportuna e favorável para «enganar» também os incautos.
E em terras de «Chico esperto» ainda mais!

Para quê servem os comícios, às vezes, com «comes, bebes e divertimentos»? Porquê os discursos «inflamados» dos candidatos em vez duma «exposição» serena dos seus pontos de vista, propostas e pretensões? Para quê as «palhaçadas» que alguns fazem, anos a fio, para
continuarem no poder talvez ainda mais do que aqueles que os próprios consideraram como «fascistas»? Se não podemos «confiar» nas multidões, como poderemos confiar naqueles que as manipulam a seu favor? A FNAT, as Casas do Povo e o futebol serviram para muito: “com papas e bolos se enganam os tolos.”

Em Psicologia Social, especialmente os «fazedores de imagem» destes políticos, conhecem muito bem os efeitos do reforço do comportamento incompatível, comunicação, halo, boatos, atribuição, atitude, primazia, frustração, conformismo, facilitação social, dissonância cognitiva, etc. e «manipulam» tudo a seu favor tal como os vendedores de automóveis, imobiliário e cosméticos.
O importante em tudo isto e para reverter a situação, é o público em geral ser suficientemente instruído e autónomo para poder resistir aos constantes «ataques» que lhe são feitos a todo o
momento nos meios de comunicação social e promocionais.

Essa instrução não foi nem tão pouco é facilitada e implementada pelo poder político.

Em 2018, já existe na colecção da Biblioterapia o 18º livro «PSICOTERAPIA… através de LIVROS…» (R), destinado a orientar os interessados para a leitura e consulta adequada de livros, desde que desejem enveredar por uma psicoterapia, acções de psicopedadogia, de interacção social e de desenvolvimento pessoal, autonomamente ou com pouca ajuda de especialistas.
  
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TERAPIA ATRAVÉS DE LIVROS para a Biblioterapia

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3 comentários:

Anónimo disse...

Nunca ouviu dizer:
"Quanto mais «burros» e divididos, melhor".
Fique-se com esta e descubra se existe qualquer razão para os governos que se querem eternizar desejarem melhorar a instrução.
Não dá «vantagens» aos políticos!

Anónimo disse...

A visita de Sócrates a Cabo-Verde será por acaso ou por necessidade?

Anónimo disse...

Gostei deste post que me parece bastante actual.