sábado, 14 de março de 2009

TIROTEIO & Companhia

“Vi as notícias na televisão e fiquei muito assustada com o que se passou, há anos, na Finlândia e na Alemanha e com aquilo que se repetiu agora. Tenho mais de 70 anos, com dois filhos que me proporcionaram cinco netos entre os 5 e os 19 anos e estou aflita com o mundo de hoje. Lembra-se das tardes e noites na Euterpe Alhandrense? Naquela ocasião, muito fizemos nós para precaver o futuro dos nossos filhos. Conheço-o muito bem mas não me quero identificar. 
Agora, não haverá nas nossas escolas tiroteios semelhantes?
Com o marido doente, a necessitar de cuidados especiais, estou mais longe de si e também das famílias dos meus filhos.
Tudo isto me assusta, talvez mais do que há 40 anos.
Por favor, diga-nos qualquer coisa como dizia nas aulas do
Hospital de Vila Franca de Xira.”



Minha Senhora.
Embora não possa vislumbrar com alguma certeza quem seja, perante este veemente apelo recebido ontem por e-mail, não me resta outra alternativa senão dar uma resposta minimamente coincidente com o pedido. Por isso, em primeiro lugar quero salientar uma resposta muito incipiente que dei a Ernesto Tavares, no meu blog anterior Psy For All , em 2MAR2008, com o título Desânimo ou Depressão?, remetendo-o para leituras complementares. Esse post teve um comentário interessante de um estudante de Psicologia.
Posteriormente, no post Ameaça de Suicídio foi dada outra resposta a Nuno, em 4AGO2008.
Antes de tudo o resto, julgo que a «educação» é o factor mais importante. A educação de que falo, é a aprendizagem que cada um faz com os ensinamentos que recebe, essencialmente da família, mas também da sociedade, com base nos modelos que está a observar e com os quais se tenta identificar. Essa observação e identificação dependem, em muito, da percepção que a pessoa tem dos modelos obtidos, bem como da interpretação que faz dos factos observados. Além disso, é necessário ter em atenção a dissonância cognitiva que pode estar a ser provocada em todo o ambiente em que a pessoa vive.

Quando os pais dizem aos filhos que não se devem ver filmes pornográficos enquanto eles os vêem às escondidas provocará dissonância cognitiva ou não?
De que maneira reagirão os filhos?
Irão ver filmes pornográficos às escondidas enquanto os pais garantem que eles «são uns anjinhos inocentes»?
Quando os pais dizem que a honestidade é a virtude suprema mas tentam ludibriar os seus clientes e o fisco com «esquemas» enganosos existirá alguma dissonância cognitiva?
O que farão os filhos no futuro?
Irão dizer que são pessoas respeitáveis enquanto fazem funcionar actividades como tem acontecido, nos últimos tempos, em alguns Bancos, em Portugal e nos EUA?

Este é um aspecto muito importante a ser considerado. 
Quanto ao último tiroteio na Alemanha nada mais sei a não ser que o pai do rapaz deveria ter muitas armas em casa por ser um desportista amante das armas.
- Que educação teve o rapaz?
- Qual a sua vida familiar?
- Que tipo de personalidade tinha?
- Quais eram as suas companhias?
- O que fazia nas suas horas vagas?
- Era benquisto na sociedade e na roda de amigos?

Como são possíveis comportamentos tão estranhos em países que se dizem «civilizados»?
É muito difícil conseguir «responder», mas é importante olharmos sempre à nossa volta para vermos por quem somos rodeados e tentar compreender e analisar o mundo que nos rodeia. Se alguém tivesse observado melhor o rapaz talvez houvesse maior probabilidade de escrutinar o seu comportamento.

Contudo, não esqueçamos que todos os filmes que vemos e os jogos com que nos entretemos nas diversões informáticas, podem produzir efeitos de reforço vicariante positivo e negativo capaz de moldar e modelar a nossa personalidade. E as personalidades intervenientes nesses jogos que modelos oferecem e são saudáveis?
Também as imagens e os noticiários constantemente difundidos sobre as «desgraças» que vão acontecendo em todo o mundo têm a sua influência, sendo importante a maneira como são transmitidos e apresentados podendo, eventualmente, ocasionar reforço vicariante em alguns:
  • É copo meio cheio ou copo meio vazio?
  • faltam 500 metros ou ainda faltam 500 metros?
  • Erraste 1 das 10 respostas ou acertaste em 9 das 10 respostas?
  • A prevenção rodoviária melhorou com 200 mortos nas estradas em vez dos 205 no ano passado ou a prevenção rodviária ainda não melhorou o suficiente porque ainda houve 200 mortas nas estradas em vez dos 205 no ano passado?
Desejamos deitar foguetes antes de tempo ou tentamos «enganar o burguês» para descobrir que, no ano seguinte, a sinistralidade mortal irá rondar os 204? Quanto é que se gastou na prevenção? Quais os resultados obtidos com as medidas tomadas? No que toca à «educação» -- com a necessária repressão se necessária for -- fez-se algo de substancial?
Há anos, quando leccionei Matemática no 1º ano do Ciclo Preparatório, nas avaliações incipientes que tentei fazer das aulas, os alunos perguntaram-me porque não sublinhávamos as respostas que estavam certas em vez de sublinharmos a vermelho as que estavam erradas. A minha resposta, numa tentativa de os motivar insuflando-lhes o EGO, foi:
-- Porque iríamos perder muito mais tempo, já que vocês sabem o suficiente para poderem acertar mais.

Os alunos têm notas negativas como medida de dissuasão e notas altas como incentivo para melhorar o desempenho. 
Toda esta situação faz-me lembrar um «caso» de 1976, apresentado por mim com o título ESTUDO DUM CASO: psicopatia, no 1º Congresso de Psicologia, em Lisboa, em Março de 1979 e publicado nas páginas 25 a 40 do caderno A PSICOLOGIA E AS TERAPIAS, do Centro de Psicologia Clínica.
O mesmo está resumido nas páginas 153 a 157 de SAÚDE MENTAL sem psicopatologia, à espera de ser transformado em livro a ser publicado quando possível.

É mais ou menos o seguinte:
Joel, com cerca de 24 anos, tentou «apertar a garganta» da sua única namorada de há vários anos. Enquanto ela desmaiava no vão do primeiro lanço das escadas de um prédio de vários andares, ele também desmaiou e, quem os viu, alertou os bombeiros que levaram os dois para as urgências do hospital. Diagnosticado como psicopata, Joel foi internado e «tratado» tendo alta ao fim de cerca de dois meses de internamento. Ninguém se lembrou da prevenção e da profilaxia para evitar futuros «acontecimentos» semelhantes.
Contudo, por indicação do psiquiatra que aconselhou a noiva a afastar-se do Joel porque corria perigo de vida, ela emigrou, casou com um rapaz que conheceu no local de trabalho, não é feliz com o marido, mas tem dois filhos. 

O Joel, activista político dos mais violentos, militando então num partido político da esquerda radical, nunca teve uma ideologia política partidária e depressa abandonou essa actividade. Em relação ao sexo feminino, apesar de muitas tentativas, nunca conseguiu gostar de outra rapariga e continua solteiro, mas triste. Depois da psicoterapia, conseguiu assumir que a culpa inicial tinha sido sua. Havia que expia-la.
Muitos anos depois, lendo bastante literatura relacionada com a Psicologia e compreendendo o porquê das coisas, Joel perguntou ao psicólogo que o apoiou nos tempos difíceis: “Psicopata. Eu?
O seu problema fundamental era a inferioridade que sentia em relação a tudo, podendo desencadear, se fosse necessário, acções violentas para reduzir o mal-estar que sentia por causa desse seu problema. Era o reforço social negativo aleatório a funcionar como mecanismo de defesa ou como forma de resolver ou diminuir temporariamente as suas dificuldades.
O que fazia ele no centro das manifestações políticas onde a «quase violência» era mais intensa? Descarregava as emoções? Reduzia a sua sensação de inferioridade?
As provas psicológicas não deram indicações de psicopatia, mas aos psiquiatras também não tinha interessado que as mesmas fossem aplicadas. «Reduzido» o problema no momento, o que interessava era deixar o rapaz fazer a sua vida e «medicá-lo» só quando necessário, se acontecesse outro problema semelhante.

Prevenção e profilaxia eram postas de lado. Interessava apenas a «cura» momentânea. Por isso, foi o principal instigador da existência  do livro «AUTO{psico}TERAPIA» (P)

O rapaz do tiroteio da Alemanha não foi apoiado na escola? Ninguém lhe notou comportamentos estranhos? Os pais não se preocupavam com ele e não notavam qualquer «desvio»? Que outra família tinha? Tinha vida social aceitável?
Na Áustria, também houve o problema do engenheiro que «engravidou» a filha e teve netos «quase sepultados», durante anos, na cave da própria casa onde morava mais gente. O «desconhecimento» do marido era tão grande que a própria mulher não sabia o que ele fazia? Que tipo de sociedade e de família?
A noiva de Joel não morreu asfixiada porque não calhou. Ele desmaiou primeiro. Se, por acaso, ela morresse de asfixia, não seria porque ele assim o quisesse mas sim porque tinha medo que fosse abandonado pela única pessoa que gostava dele.Só quando a acção psicoterapêutica o ajudou a analisar a sua vida anterior e a compreender e aceitar que ele era uma pessoa tão ou mais importante que todas as outras,
conseguiu deixar que ela orientasse a sua vida à maneira dela e com os conselhos recebidos, «fazendo o disparate» de se casar com outra pessoa com quem, por acaso, não é feliz mas onde o Joel não deseja interferir.
E se, sem a psicoterapia necessária, como reivindicação do seu desconforto actual e falta de compreensão, o Joel decidisse exercer vingança contra o psiquiatra «aconselhador»?
Do mesmo modo, com o jovem «atirador» da Alemanha, o que se terá passado antes e qual terá sido a causa desencadeante do seu comportamento? 

Lembro-me perfeitamente da Euterpe Alhandrense e da interacção mantida mais do que um mês com muitos jovens, agora adultos. Minha cara amiga, “estar aflita com o mundo de hoje” não chega nem conduz a coisa alguma. O importante é agir,
prevenir e ajudar a modificar. O mundo poderá vir a ser aquilo que nós quisermos e ajudarmos a acontecer.
Em pelo menos uma dezena de posts deste blog tive a oportunidade de abordar temas sobre modelagens, moldagens, reforços positivo, negativo, social, vicariante, aleatório etc., identificações e vários factores que podem condicionar a formação da personalidade e os nossos comportamentos do dia-a-dia. Quem tiver a paciência de os procurar e vontade de os consultar pode inteirar-se bastante sobre todos estes factores psicológicos que nos influenciam.
Por todos estes motivos, ajude os seus filhos a educar os deles o melhor possível, com bons exemplos, incentivos e reforços adequados. Pode ser que os seus netos contagiem os colegas e amigos evitando, em Portugal, «cenas» como as dos países «civilizados».
Com os macacos e os outros animais acontecerá o mesmo?
Diz-se que «cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém» mas, mesmo assim podem, às vezes, não ser suficientes.

Em 2018, já existe na colecção da Biblioterapia o 18º livro «PSICOTERAPIA… através de LIVROS…» (R), destinado a orientar os interessados para a leitura e consulta adequada de livros, desde que desejem enveredar por uma psicoterapia, acções de psicopedadogia, de interacção social e de desenvolvimento pessoal, autonomamente ou com pouca ajuda de especialistas.

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1 comentário:

Anónimo disse...

Quando li isto fiquei sensibilizado para alguns erros que vamos cometendo na educação.