sábado, 18 de abril de 2009

DESCRIMINALIZAÇÃO DA DROGA

"Gostei do seu post.
Qual o «feedback» que me dá acerca das investigações de Glenn Greenwald sobre as suas referências demasiadamente elogiosas feitas à descriminalização da droga em Portugal? Se ainda não leu, consulte o www.salon.com: (8ABR2009).

Dê-me uma opinião sua, tal como a deu ao Carrancudo e ao Abelhudo.
17 de Abril de 2009.
A. Curioso"



Quando em Novembro de 1957, há mais de 50 anos, desembarquei em Lisboa, tendo passado por Carachi, Istambul, Frankfurt e Paris, achei que Lisboa era a cidade mais limpa de todas elas, mas que os seus habitantes eram pessoas que passavam fome. Senão, não se divulgaria a ideia de que “beber um litro de vinho é dar de comer a um milhão de portugueses”. Isto quer dizer que se os bebedores entrassem em greve, um milhão de portugueses iria passar fome.

Vem isto a propósito da resposta a dar a um comentário/pergunta acima transcrito feito por A. Curioso a respeito do elogio «desmesurado» de Gleen Greenwald à descriminalização do consumo da droga em Portugal.
Depois de consultar o site Salon, a resposta mais simples a dar é: “se os consumidores de droga entrassem em greve», os passadores, os traficantes, os produtores e os cultivadores entrariam em pânico, do mesmo modo como acontece, hoje em dia, em tempo de crise, com os fabricantes de automóveis, de tecidos e de outros bens de consumo”.
Não havendo consumo, torna-se desnecessária a produção ou fabricação. Neste caso, não existiria qualquer criminalização ou descriminalização mas apenas falta de dinheiro para a aquisição do produto. E que bom seria se, em vez da falta de dinheiro, houvesse falta de apetência para o consumo!


Quanto à criminalização, lembro-me muito bem da legislação «engendrada», dos equipamentos e meios materiais e humanos adquiridos para a prevenção rodoviária que, nos últimos anos, pouco ou nenhum resultado tem dado em relação à sua magnitude ou aos custos envolvidos.
As manobras perigosas abundam, os equipamentos vão funcionando de vez em quando, os cidadãos vêem-se confrontados com autênticos atentados à sua liberdade de livre circulação, mas os prevaricadores continuam a actuar livremente e quase sem restrições ou punições.
Se um cidadão, com apetência para colocar sempre os seus interesses acima dos de todos os outros, inclusive, quando possível, estacionar o seu carro dentro do café, conseguir esses seus intentos apesar de toda a legislação em contrário e de todos os meios de coacção existentes, vai obter reforço positivo e continuar esse mesmo comportamento com a aprendizagem que estiver a fazer.
Se esse seu comportamento não for eliminado ou neutralizado com uma falta de apetência ou com uma punição eficaz, o mesmo continuará a perpetuar-se enquanto continuar a dar-lhe satisfação com o reforço recebido: “faço o que quero e não sou punido ou impedido de o fazer”. Nestas condições, não me parece que a simples criminalização ou descriminalização resolva o problema.

No telejornal, anunciaram que um relatório sobre a criminalidade em 2008, indicou que a violenta aumentou 10,8% em relação a 2007 e a geral 7,5%. Além disso, em 2008, a delinquência diminuiu cerca de 30%, mas os ataques em grupo aumentaram em 40%. Qual a significação ou ilação que se pode tirar desta estatística? Da minha parte, ponho a hipótese de que os adolescentes que provocavam desacatos isolada e esporadicamente «avançaram» na idade e na prática e agrupam-se agora em gangs para conseguirem atacar melhor, com mais eficácia e «lucros». Temos aqui a «afiliação» e o «reforço secundário positivo» -- e talvez negativo -- em acção. Qual a educação, instrução, ambiente familiar e social dos autores destes desacatos?

Vendo as coisas sob um outro prisma, parece-me que a «guerra dos genéricos» entre a Associação Nacional de Farmácias e a Ordem dos Médicos não é muito «inocente». A Ordem diz que os médicos não aceitam bem os genéricos porque não confiam neles. Acrescenta que eles não ganham coisa alguma em prescrever medicamentos «de marca». Nem uma ida a um Congresso em que possam passar uma férias bem boas? Nem um bom carro que é dado, talvez «em serviço» a um «investigador» que fale bem desse laboratório? Nem qualquer outra «benesse»? Se assim é, qual a razão das «denúncias» de Pequito Valente? Em que é que ficou o seu processo? Não se provou coisa alguma? E será «provada» alguma coisa em muitos outros processos que estão agora «em curso», apesar de existirem vídeos? Para que servem os bons advogados e os subterfúgios da lei? E várias outras coisas de que a televisão tem vindo a falar nestes dias? O que acontece nos outros países quanto aos genéricos?
Qual o seu preço? E na «tropa» não os utilizam? Nestas ocasiões, são melhores ou piores?

Também, se os genéricos são muito bons, qual a razão de existirem mais genéricos relacionados com os medicamentos mais caros e receitados pelos médicos e haver pouca escolha para outros medicamentos que não dependem de receita médica? Não seria melhor a ANF preocupar-se também e principalmente com os utentes e pôr à sua disposição genéricos que não exigem receita médica? Assim, os próprios utentes ou consumidores iriam ajudar a estender a escolha às prescrições médicas. Haverá algum «interesse» escondido atrás desta «guerra»?

Limitando-me agora à descriminalização da droga, segundo os mapas apresentados, parece que a sua utilização diminuiu. Mas as medidas serão suficientes e eficazes? Estamos a pensar em consumir, descriminalizar e reduzir o consumo. E se pensássemos antes a montante? Como disse no início, se não houvesse consumidores, por mais droga que houvesse, criminalizada ou descriminalizada, a mesma não teria «saída». Nem seria comprada em saldo!
Para tanto, é mais importante que não haja apetência e isso só se pode conseguir com uma educação baseada em modelagens, identificações, moldagens e reforços, num determinado sentido e sem dissonância cognitiva. A quem cabe a educação, em primeiro lugar? Aos pais que, às vezes, não têm tempo «para se coçarem»? Aos que tiveram filhos «por acaso» e, às vezes, porque não tiveram uma família que os pudesse acarinhar e amparar? A «facilitação social» e a «afiliação» têm muito a ver com estes processos sociais e familiares. Aos professores que já não têm paciência para «aturar» os «malcriadinhos» que não costumam escassear em muitas turmas?
Na aprendizagem que «conselhos» dos pais. O exemplo deles é fundamental para que, aquilo que dizem, seja executado e interiorizado pelos filhos sem necessidade de castigo -- às vezes imprescindível -- e com compreensão, sem dúvidas em relação ao que ouvem e vêem. É importante que exista coerência e consistência nos comportamentos dos pais e que o seu exemplo seja válido, mesmo sem as palavras e frases «civilizadas» que mistificam muito as intenções ou a significação daquilo que é verbalizado. Os filhos quase que adivinham as «intenções» dos pais e são capazes de obter um feedback muito bom de toda a situação, o qual ajuda a que a educação não seja tão boa como deveria, ou má, como muitas vezes acontece. Senão, para quê a droga? Não será para reduzir a sensação de abandono, desconforto, desânimo, exclusão, desamparo e falta de valor próprio? A droga pode «afastar» a pessoa de todo este mal-estar proporcionando-lhe reforço social negativo que é viciante e adictivo, especialmente, se for aleatório.

Concordo, em princípio, com os resultados da investigação e acho bem que Glenn Greenwald elogie o nosso país, mas interessa saber a razão ou a causa profunda que proporcionou os resultados que ele cita. Por acaso, não haverá por trás desta descriminalização alguém que se dedique concomitantemente à desintoxicação e à reabilitação, com clínicas que vão dando resultados provisórios e nunca definitivos? Qual o resultado dos «tratamentos» realizados? Aqueles que são «tratados» não voltam à droga? Não conheço resultados a não ser daqueles que, como os alcoólicos, reincidem quase de seguida. Valham-nos os Alcoólicos Anónimos!
Por mim, acho bem que se tenha conseguido a vitória que o investigador cita e que PORTUGAL seja mencionado como um país com bons resultados, mas a minha ambição não fica por aqui.

Eu quero que o país ande para a frente; que demonstre que a «educação» é um factor importante e que as famílias, «todas elas», tenham condições para uma vida digna, capaz de «produzir» cidadãos dignos e honestos. Que não produza políticos, banqueiros, técnicos, especialistas, agricultores ou outros operários que necessitem de utilizar apenas o poder, a riqueza, a ostentação, a vigarice, a delinquência, como uma espécie de droga, para obterem reforço social negativo para os «males» que têm dentro da cabeça e que nunca foram expurgados por uma «educação» adequada.

Se cada um estiver «de bem consigo próprio» não terá de esquecer aquilo de que não se lembra, nem tentar lembrar-se daquilo que esqueceu, como está a acontecer a bastantes figuras públicas do nosso país. Terá sempre a possibilidade de se lembrar das boas coisas que a vida lhe proporcionou num óptimo meio ambiente que ele próprio ajudou a criar.
Já chega de roubalheiras, misérias e crises!
Invistam na educação e na instrução para termos um País melhor!

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1 comentário:

A. Curioso disse...

Obrigado pela resposta. Gostei da mesma.