domingo, 9 de agosto de 2009

AS ATRIBUIÇÕES ERRADAS

Para os senhores CãoPincha, do blog Compincha - CãoPincha

Acabei de tomar nota do vosso reparo feito no post OS ELEITOS, de 3 de Agosto corrente e até gostei do primeiro comentário que lhe foi feito pelo Observador Social, o qual acabei de ler.
Quando puder e tiver disposição para isso, vou fazer algumas observações neste novo post mas, antes de tudo, tenho de vos solicitar que, além do meu post O 25 DE ABRIL AINDA EXISTE?, de 24 de Abril último que vocês já comentaram, leiam também os posts GOVERNAR «BEM» NÃO É FÁCIL, de 22 de Fevereiro e AS ATRIBUÇÕES, de 19 de Fevereiro deste ano. Vão obter aí algumas ideias que defendo também como cidadão e não só como psicólogo.

Em relação às eleições, posso dizer-vos que aquilo em que nós votamos é na imagem de marca que nos impressiona mais, e que os candidatos querem apresentar. É o efeito de primazia e de posteridade que influencia muito uma atribuição para que exista uma mudança de atitude a favor do candidato. É por isso que todos os candidatos, praticamente em qualquer parte do mundo chamado «civilizado», se socorrem de especialistas que os ajudem a mostrar uma boa imagem para que os eleitores a escolham, do mesmo modo como poderão adquirir uma roupa de marca, um brinquedo caro, um computador ou um automóvel.
O resultado da aquisição é o voto que é depositado a favor desse candidato. A partir daí, o que ele fizer no futuro passa a ter menos importância do que aquilo que na realidade nós imaginamos que ele vai fazer. Assim, até pode acontecer que a «garantia de qualidade» por ele apresentada não seja verdadeira e que o votante se «prometidas» e «não cumpridas» de muitos deles.
sinta defraudado na escolha feita. É o que acontece a maior parte das vezes, porque quase nenhum candidato consegue cumprir aquilo que prometeu e que, provavelmente, nunca pensou cumprir. Se não, passemos em revista as promessas
Quase nenhum dos antigos candidatos deve deixar de se evidenciar nesse escrutínio. 
O grande problema é nós fazermos inferências ou «atribuições» a partir do que ouvimos nas promessas, sem termos o cuidado de recordar aquilo que se passou, às vezes, com o mesmo indivíduo ou com um seu correligionário. Se fizéssemos isso, teríamos mais dados fidedignos sobre o assunto. A vossa citação do ditado «Cesteiro que faz um cesto faz mil» parece-me adequada e até diria que muitos lobos vestem a pele de cordeiro na ocasião das eleições. E nós, deixamo-nos enganar apesar de lhes podermos ver as orelhas e o rabo.

 Do mesmo modo, muitos idosos são enganados por burlões que se fazem passar por funcionários e até por beneméritos. E a Polícia, faz os possíveis por os ajudar a não se deixarem enganar mas, pouco pode fazer para «apanhar» os «malfeitores»…
No mundo financeiro, vimos que a ansiedade de obter algum lucro extra nas economias existentes pode dar mau resultado apesar de os gerentes dos estabelecimentos contactados aparentarem uma credibilidade acima de toda a suspeita. Não é por acaso que se instituíram os «off-shores».

Para não sermos iludidos, é importante a nossa atribuição e a inferência que fazemos em relação a uma determinada entidade, organização ou valor do objecto.
Se não fosse assim, como se venderiam em muito maior quantidade coisas que quase não têm valor,
mas beneficiam duma promoção e publicidade muito bem feita, do que outras de muito mais valor mas que não têm a mesma promoção? Isto acontece com roupa, electrodomésticos, bijutaria, automóveis, casas e muitas outras coisas que utilizamos no nosso dia-a-dia.

Com os candidatos a cargos políticos ou públicos também acontece o mesmo.
Nós, como «patrões», contratamo-los ingenuamente pelo aspecto que aparentam e pelas promessas que fazem, sem ver o seu verdadeiro currículo e se os diplomas apresentados são verdadeiros ou forjados. A ideia de conhecermos os candidatos nos seus hábitos e costumes, seu passado, família, vizinhança, amizades, filiações, património, etc. é muito útil para conseguirmos fazer uma atribuição correcta. Os meios de comunicação social poderiam de facto dar uma grande ajuda nesse aspecto visto que conseguem fazer uma investigação exaustiva e séria sobre o assunto, porque os candidatos sérios a merecem, embora também estes
necessitem de apresentar uma boa imagem.

Hoje em dia, basta reparar que os «detractores da gravata» e do «bom aspecto fascista» logo depois do «25 de Abril», são os primeiros a apresentarem-se devidamente «paramentados», às vezes, até a rivalizar com aqueles que nunca desprezaram a gravata por uma questão de hábito. São tempos e costumes de que vale a pena tomar nota ao fazer a escolha de quem nos vai governar pelo menos durante 4 anos.
Depois de eles estarem no poder os nossos arrependimentos serão tardios.

Por este motivo, também concordo com a vossa ideia de que deve existir no boletim de voto um quadradinho em que o eleitor possa colocar uma cruzinha para dizer que não concorda com qualquer dos candidatos propostos. Talvez assim até fosse possível
aumentar o número de votantes conscientes e desejosos de intensificar o sistema democrático reduzindo o número dos abstencionistas, porque as desilusões dos votantes sérios com a governação actual é tão grande que não dá vontade de ir votar para sofrer mais um engano. Daí o comportamento de não participar em mais uma farsa montada pelos «lobbies» existentes. Como foram eles que «investiram» grande parte do dinheiro das «campanhas», que são também à custa do povo, querem tirar o benefídio do seu investimento a todo o custo. Assim, o povo todo é que não tira. Talvez uma parte muito reduzida como acontecia nos tempos antigos.

Também no mundo empresarial, qualquer candidato a emprego se preocupa em apresentar o currículo com um bom aspecto e esmera-se no momento de se submeter a uma entrevista. O entrevistador é que tem de separar o trigo do joio e descobrir a
«verdade». É o que tem de fazer todo o votante. Não é isso que deve fazer também uma pessoa que sente a barriga inchada e a deseja desinchar? Acreditar que o iogurte «actívia» irá resolver o problema em poucos dias, pode provocar uma desilusão semelhante à de votar no candidato errado. A imagem que o anúncio quer provocar é a de um alimento que «resolve rapidamente a dificuldade do estômago». Quase sempre é uma «inverdade» que ajuda a vender mais iogurtes desse tipo mas não resolve, quase nunca, o problema tal como é anunciado.
Nas eleições podemos prenunciar quase o mesmo.

Também, se as nossas atribuições forem mal feitas, podemos ir tomar uma refeição num determinado restaurante só porque tem boa aparência, para depois ficarmos arrependidos com a escolha. Depois de «enfiar o barrete» não há nada a fazer a não
ser tentar não cair no mesmo logro. O mesmo pode não acontecer nas eleições porque os eleitos conseguem estar lá muito tempo, embora andem «às contas» com a Justiça. Enquanto não forem condenados e estejam a cumprir a pena, podem continuar a fazer, com ou sem ajuda de muitos comparsas, qualquer «trafulhice» que os tenha tornado suspeitos.

Qual a razão de não nos precavermos contra as más práticas de que muitos se tornaramactores principais?
Não conseguimos avaliar até ao momento as acções de governos dos diversos partidos? Não conseguimos avaliar a actuação nas nossas autarquias?
Não conhecemos os seus protagonistas pelo que fizeram, deixaram de fazer, prometeram, não cumpriram, enganaram, roubaram, ou melhor dizendo, desviaram, satisfizeram--
nos, ficaram aquém da expectativa, desiludiram, fugiram para não cumprir o prometido, pensando apenas em si próprios ou nas suas carreiras?
O que se passa de francamente desagradável, manipulador ou a exigir conformismo no interior dos diversos partidos para que até os militantes venham publicamente denunciar comportamentos de prepotência, favoritismo, rivalidades anti-democráticas, etc.?
Exemplos não faltam com tantas novidades que são despoletadas quase todos os dias nos meios de comunicação social. É verdade que pode haver muita especulação e vedetismo mas também não existe fumo sem fogo e o comportamento dos que se dizem inocentes, coerentes, democratas, pluralistas, competentes, etc. deixa muito a desejar, especialmente no que toca a explicar devidamente e sem sombra de dúvidas aquilo que se passou.

Portanto, o que em Psicologia Social se pode tentar alertar é que as pessoas devem ter muito cuidado ao fazer as atribuições necessárias para poderem eleger quem acham mais adequado, tentando coligir e utilizar , para isso, todos os dados disponíveis dos registos passados e presentes e sem ligar muita importância aos meios de comunicação social que irão influenciar o eleitorado em favor do seu «eleito».
É por isso que, para qualquer candidato a «imagem» é muito importante.
É o mesmo que se deve fazer na aquisição de qualquer coisa valiosa, de longa duração e que não tenha uma boa garantia de substituição de peças ou de manutenção.
Suponho que, com este arrazoado, respondi minimamente à observação feita concordando, em grande parte, com a vossa ideia.
Boas eleições.

Em 2018, já existe na colecção da Biblioterapia o 18º livro «PSICOTERAPIA… através de LIVROS…» (R),
destinado a orientar os interessados para a leitura e consulta adequada de livros, desde que desejem enveredar por uma psicoterapia, acções de psicopedadogia, de interacção social e de desenvolvimento pessoal, autonomamente ou com pouca ajuda de especialistas.

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8 comentários:

CãoPincha disse...

Até que afinal obtivemos a reacção que nos parece certa.
Oxalá que as eleições sejam melhores do que as anteriores.

Anónimo disse...

Espero que os portugueses tenham juízo e saibam escolher as pessoas certas ou rejeitar qualquer delas. Acabei de ver uma entrevista que Raul Solnado e Carlos Cruz fizeram a Almada Negreiros.
Oxalá que agora, com os donos (ou donas) dos partidos, não estejamos a voltar aos tempos em que ele não era democrata.

Nuno disse...

Como antigo aluno seu de há uma dezena de anos, sendo agora empresário,acho que temos de ter muitas «informações», ponderar bem e decidir com cautela deixando sempre «portas de saída» para casos de emergência.
Toda a cautela é pouca!

CãoPincha disse...

O que nos tem a dizer sobre o livro CAÍN, de José Saramago e da polémica suscitada à volta do mesmo?
Agradecemos a sua opinião.
CãoPincha

Mário de Noronha disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Mário de Noronha disse...

Acabei de ver o vosso comentário feito ontem no meu post AS ATRIBUIÇÕES ERRADAS, de 9 de Agosto passado.
Acho que este assunto não tem direito a que me sinta obrigado elaborar um novo post por ter pouco a ver com a Psicologia e, por isso, vou responder apenas com outro comentário.
Concordo totalmente com José Saramago quando diz que OS DIREITOS DO HOMEM ficam incompletos sem dois acrescentos fundamentais que são os direitos à dissidência e à heresia.
Estou a exercer o primeiro: não concordo com as suas ideias expressas acerca do novo livro.
O segundo direito, a heresia, leva-me a dizer que considero as suas ideias tão estapafúrdias como a sua escrita sem pontuação.
Exceptuando o seu primeiro livro publicado com o título “LEVANTADO DO CHÃO”, que li com muito gosto, mas teve pouca aceitação inicial, os outros, comecei a ler “Memorial do Convento”, “Jangada de Pedra” e “Terra do Pecado” e não passei de poucas páginas iniciais. Enfastiaram-me.
Será que o primeiro livro foi escrito pelo mesmo autor?
Não sei como se ganha assim o «NOBÉL», como ele diz.
Nunca mais li qualquer outro livro dele nem vi o filme baseado na cegueira.
Se os intolerantes e os «muito sensíveis» não tivessem desencadeado uma polémica inútil, inadequada e sem razão à volta do novo livro, talvez o mesmo passasse mais despercebido até na sua procura e venda.
Tudo isto me faz lembrar o vosso post “Os Casamentos dos Sarilhos”, de 21 de Janeiro deste ano, bem como aquilo que um editor me disse na ocasião da edição de um livro meu, para aumentar a sua venda:
-- Arranje pelo menos alguém que fale mal do seu livro. O que é preciso é falar dele publicamente.
Entretanto, gostei de ouvir o comentário sereno do Professor Alexandre Quintanilha feito no jornal da manhã, de Sábado, do canal 1 da RTP. O seu comentário facultou a José Saramago o direito à sua heresia e dissidência.
Entretanto, gostaria de saber se, para além da Bíblia, José Saramago terá lido mais alguns livros sobre Publicidade e Marketing.
+ Quantos livros novos foram agora vendidos, depois da polémica?
+ Qual o aumento actual de venda de outros livros mais antigos?
+ Qual a razão de não se terem vendido, no início, muitos exemplares do seu primeiro livro?
Como podem compreender, eu também tenho direito a fazer atribuições erradas.

Anónimo disse...

Ouvi dizer que o senhor é o único professor no ISMAT que não fornece aos alunos, nem por «e-mail», a cópia dos «powerpoint» que apresenta nas aulas e que servem de suporte para as suas aulas.
Porquê? Qual o inconveniente de aceder ao pedido deles?
Faço este «comentário» porque também me disseram que era a sua preferência em relação ao e-mail.
Pode-me dar uma explicação?

CãoPincha disse...

O que acha do julgamento de CASA PIA?
CãoPincha